Síndrome Charles Bonnet

“Eu sempre pensei que ver coisas estranhas, era um sinal de problemas mentais”

Charles Bonnet, Filósofo e Naturalista do século 18, descreveu pela primeira vez a condição visual associada à percepção de alucinações, vivida pelo seu avô. A síndrome foi posteriormente introduzida na comunidade psiquiátrica nos finais século 20.

Indivíduos sem distúrbios psiquiátricos e com acentuada perda de acuidade visual estão sujeitos a esta condição. A sua prevalência, dependendo dos estudos disponíveis, situa-se entre 10 a 60% nos pacientes idosos com baixa visão. A verdadeira prevalência deve estar subestimada devido ao estigma social associado à patologia, uma vez que estes pacientes facilmente omitem os sintomas por receio de serem rotulados como doentes mentais.

A síndrome de Charles Bonnet caracteriza-se exclusivamente por alucinações visuais sem outro tipo de alucinações (auditivas, sensitivas, etc). As imagens que estes pacientes reportam variam e podem ser divididas em dois grupos:

Padrões repetitivos e simples: linhas, pontos ou formas geométricas que podem ser coloridos e e/ou brilhantes. Podem ainda ver padrões tipo mosaicos, ramos ou raízes de árvores que progressivamente ocupam variado tamanho no campo visual. Normalmente, descrevem estas alucinações em cima de imagens familiares, em que podem ver a cara das pessoas distorcidas.

Alucinações complexas: inclui pessoas, locais (cascatas, montanhas, jardins), insectos e/ou animais. Por vezes pode ver uma pessoa ou grupos de pessoas, que podem estar vestidos com trajes antigos, de tamanho variável e com e sem movimento. Normalmente estas imagens não incluem pessoas conhecidas.

Os doentes devem ser informados sobre a condição, salientando que não é um problema mental ou um sintoma de outra doença, mas apenas o resultado da sua perda de visão. Deve ainda ser explicado que normalmente estas alucinações diminuem ou desaparecem com o tempo. Apesar de não ser uma disfunção psiquiátrica, estes profissionais podem ajudar a lidar com os sintomas.

Actualmente não existe terapia farmacológica eficiente. Alguns especialistas, aconselham a fazer movimentos oculares quando a alucinação começa, olhando de um lado para o outro a cada segundo, durante 15 a 30 segundos, sem mexer a cabeça. Se não melhorar, devem esperar uns segundos e fazer novo ciclo de movimentos. Caso a alucinação continue após 4 ou 5 ciclos, é muito improvável que desapareça. A iluminação e disposição da mobília (televisão, mesas) podem ter influencia principalmente em pessoas com mobilidade reduzida. O stress e cansaço podem intensificar os sintomas.

Os optometristas devem questionar os seus pacientes de baixa visão sobre estes sintomas e explicar a sua natureza. Os indivíduos que estejam familiarizados com os sintomas, mais facilmente lidam com a condição.