Lesões Suspeitas

Durante a prática clínica podemos encontrar algumas variações do que é considerado normal. É importante estar familiarizado com determinados achados, como as lesões e tumores ao nível das pálpebras, conjuntiva, órbita e intra ocular (segmento anterior ou posterior), de forma a melhor diferenciar entre benigno e maligno. Este artigo pretende explorar algumas lesões mais frequentes.

Segmento anterior

Nevos e papilomas são as lesões mais frequentes ao nível das pálpebras. Lesões benignas (pigmentadas ou não pigmentadas) localizadas na margem palpebral, na pálpebra ou conjuntiva têm rara tendência a transformação maligna. As lesões malignas da pálpebra apresentam determinadas características que os tornam suspeitos. Podem classificar-se em:

Carcinoma basocelular ou carcinoma de células basais (CBC)

Queratose actínica (potencial risco para carcinoma células escamosas)

Ceratoacantoma ou Queratoacantoma (baixo risco para carcinoma células escamosas)

Carcinomas de células escamosas ou carcinomas epidermoides (5% tumores epiteliais, muito mais agressivos que CBC)

Carcinoma sebáceo (raro, frequentemente diagnosticado incorrectamente)

Melanoma (<1% de todas as lesões palpebrais malignas)

Os sinais e sintomas de ALERTA inclui: ser sintomático (comichão ou irritação), cor desigual, crescimento rápido, tamanho superior a 5 mm, secreção ou sangramento, madarosis (perda pestanas), queratinização ou presença de vasos sanguíneos irregulares, perda da arquitectura normal das pálpebras, linfadenopatia.

Relativamente ao CBC, com cerca de 85% de todas as lesões malignas das pálpebras, destacam-se os seguintes factores de risco:

– Idade (maior incidência entre 60-70 anos)

– Exposição a radiação UV

– Pele branca, íris clara

– Historial de cancro de pele

– Debilidade imunológica.

Segmento posterior

Ao nível do segmento posterior podemos encontrar variadas lesões na coróide, retina, disco óptico ou órbita. No entanto, neste artigo apenas será discutido a distinção entre nevos e melanoma da coróide.

Um estudo realizado em Portugal em 2010 com 204 pacientes mostrou uma prevalência de 0.4% de nevos da coróide, no entanto, limitava-se apenas à área da retina visível com retinografia, no âmbito do despiste da retinopatia diabética.  Outros estudos apontam para uma prevalência entre 4 a 8% em caucasianos nos Estados Unidos da América.

Os factores que aumentam a suspeita de alteração de nevus da coróide para melanoma inclui:

– Espessura superior a 2 mm (ecografia ocular durante 1-2 anos para diferenciar),

– Presença de pigmento alaranjado na superfície, ausência de drusen.

– Presença de fluido ou edema,

– Proximidade ao disco óptico (≤ 3mm),

– Sintomático (escotoma)

Monitorização

O manuseamento de um nevo coróideo é determinado pelo seu risco de se transformar em melanoma da coróide. Deve ser feito o referenciamento sempre que exista dúvida. Pacientes com nevos da coroides que não apresentam características suspeitas não necessitam de tratamento. Durante o primeiro ano devem ser monitorizados cada 6 meses, posteriormente, devem ser avaliados anualmente enquanto os nevos permanecerem estáveis. A sua monitorização deve ser acompanhada de fotografia para detectar eventuais alterações de tamanho e/ou cor. Crescimento de 0.5 mm durante vários anos ou décadas pode ser normal, mas em 1 ou 2 anos é suspeito.  Alguns clínicos sugerem o acompanhamento de lesões inferiores a 2 mm de espessura. Lesões maiores que 2 mm de espessura são sempre suspeitas.

Embora exista alguma discussão sobre a relação entre exposição à luz UV e melanoma da coróide, óculos de sol pode eventualmente reduzir o risco de melanoma ocular.

Referenciamento e comunicação com o paciente

Lesões suspeitas no segmento anterior devem ser encaminhadas urgentemente para oftalmologia, principalmente quando o paciente é sintomático e existe aumento tamanho, secreção ou sangramento.

Nevos da coróide devem ser referenciados para monitorização oftalmológica. Na minha opinião, o optometrista pode fazer a monitorização semestralmente se tiver acesso a retinografo e caso não exista suspeita de melanoma.

A maioria das lesões são benignas e o paciente deve ser informado da sua condição. Linguagem acessivel deve ser usada para não confundir ou alarmar o paciente. Além disso, é crucial ter um papel educativo/preventivo e passar a mensagem que o optometrista tem uma larga responsabilidade nos cuidados primários de visão, e desta forma, qualquer alteração ou problema com os olhos, devem contactar-nos imediatamente.

Para finalizar, o método ABCDE pode ser bastante útil na avaliação de nevos na pele.

Links de interesse:

Malignant Eyelid Lesions Demographics and Risk Factors (Review of ophthalmology)

Tumours of the Lid (Slideshare)

Eyelid lesions in general practice (Austalian Journal General Practice)

Grupo de Oncologia, Órbita e Oculoplástica (website João Cabral e Mara Ferreira)

Lesões pigmentadas da conjuntiva (Canal Youtube João Cabral)

Artigo actualizado em 06/2020