Cirurgia Catarata

cirurgia catarata

A cirurgia de catarata é a cirurgia oftalmológica mais comum com uma percentagem de sucesso superior a 97%. No entanto, o processo de encaminhamento do paciente para cirurgia e sua avaliação pode transformar-se num modelo rotineiro sem as devidas precauções. Este artigo pretende discutir algumas condições oculares que podem ser agravadas com a facoemulsificação e implante de lente intra-ocular, levando à possível insatisfação do paciente.

Dentro do possível, é importante fazer uma completa avaliação ocular antes de discutir com o paciente a opção da cirurgia. É importante identificar outras condições oculares de visão reduzida, muitas vezes menos evidentes. Essas condições devem ser discutidas com o paciente e podem necessitar de ser tratadas ou encaminhadas para outro profissional antes de fazer referência à operação da catarata.

Blefarite
É uma condição bastante comum na população idosa e deve ser tratada ou atenuada antes da cirurgia de forma a reduzir o risco de infecção pós-operatória, nomeadamente endoftalmite. Outras infecções ao nível nasolacrimal também devem ter tratadas.

Distrofia endotelial de Fuchs
A condição é importante no cenário da cirurgia de catarata porque o paciente pode não recuperar suficientemente a acuidade visual pós cirurgia, devido à falta de transparência da córnea e por outro lado, a operação pode acentuar a distrofia corneana por induzir a perda de células endoteliais. Desta forma, quando existe distrofia endotelial acentuada (ex. guttata grau 3, 4), deverá ser considerado o transplante endotelial para além da operação catarata.

Uveítis

Um dos efeitos secundários mais comum encontrado em pacientes com historial de uveítis é a formação de catarata. Por outro lado, a cirurgia à catarata pode exacerbar a inflamação da úvea. Em geral, é considerado boa prática clínica realizar a cirurgia quando não existe actividade inflamatória durante 2 a 3 meses pré operação. O paciente deve ser informado dos riscos acrescidos durante e após cirurgia.

Membrana epirretiniana
Possivelmente, a membrana epirretiniana macular é a fonte de perda de visão não diagnosticada mais frequentemente em pacientes que consideram a cirurgia de catarata. Esta anomalia da membrana limitante interna da retina é extremamente difícil de observar sem dilatação pupilar e com opacificação do cristalino. Normalmente está associado a descolamento posterior vítreo e, no caso de ser visível o anel de Weiss, deve-se fazer uma observação minuciosa da zona macular. O uso de OCT é uma mais valia nestes casos. Caso se confirme a existência de membrana epirretiniana, o paciente deve ser informado sobre a possível limitação de acuidade visual e sobre o risco acrescido de edema macular cistóide pós-operatório.

Outra condição que tem ganho relevância no contexto da cirurgia à catarata, graças aos avanços de imagem obtida com OCT, são as telangiectasias maculares idiopáticas que resulta do desenvolvimento de fissuras ou cavitações na fóvea limitando a acuidade visual. Esta anomalia não tem tratamento eficaz e pode comprometer a visão do paciente depois da operação à catarata.

Como regra geral, quando a acuidade visual no paciente com catarata é inferior ao esperado, deverá ser realizado uma avaliação cuidadosa da zona macular.

DMI

Pacientes com degeneração macular relacionada com a idade em estágio exsudativo devem ser tratados e estabilizados antes da cirurgia à catarata. A questão foca-se no impacto da progressão da DMI com a cirurgia à catarata. Um estudo realizado por Klein BE e colegas ao longo de 20 anos e publicado em 2012 concluiu que a cirurgia não é um risco acrescido para DMI incipiente, mas pode afectar o desenvolvimento da DMI para estágios avançados da doença.

Retinopatia diabética
Pacientes com diabetes tem risco acrescido de desenvolver edema macular após a cirurgia de catarata. Desta forma, medicação suplementar deve ser considerada, especialmente no caso de retinopatia diabética. Infelizmente, a patologia macular pode ser difícil de detectar no exame clínico e mais uma vez, a imagem através de OCT é fundamental. A identificação da patologia macular é importante não apenas para fins de aconselhamento mas, porque em alguns casos, a cirurgia de catarata pode afectar a doença macular.

Patologias nervo óptico e vias ópticas

Na prática clínica diária, este grupo de patologias poder ser difícil de detectar em pacientes com cataratas, principalmente quando não se tem acesso ao historial clínico. Para além da observação da cabeça do nervo óptico, nomeadamente a sua cor, fazer o exame de reflexos pupilares pode ajudar no prognóstico de recuperação de acuidade visual pós cirurgia. Fazer uma avaliação de campos visuais pode ajudar, mas normalmente existe uma diminuição generalizada, que pode mascarar padrões típicos de perda periférica associada a estas patologias.

Do meu ponto de vista, é extremamente importante estar consciente da relação destas patologias com a operação à catarata durante a prática optométrica diária.

2 thoughts on “Cirurgia Catarata

  1. Na verdade constitui um parte importante do procedimento, contudo, requer uma malha mais apertada na hora de se autorizar o mesmo. O que isto quer dizer, em linhas gerais é de que deveria existir um organismo decisor no qual todos os profissionais deveriam propor a cirurgia e externo a unidade hospitalar, para que o verdeiro interesse do paciente e do SNS fosse salaguardado. A AV e a leitura da Sensibilidade ao contraste são parâmetros de seletividade importantíssimos na hora de enveredar pela cirurgia. O contínuo desrespeito destes parâmetros faz com que muita vezes o profissional e a sua unidade hospitalar sejam os únicos beneficiados pelo procedimento.

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  2. Relactivamente ao transplante de cornea na distrofia endotelial de Fuchs é importante compreendermos que esta é mais invasiva com riscos colaterais mais sérios que a cirúrgia da catarata.
    Dos muitos casos clínicos observados tratados e ou encaminhados ainda não tive oportunidade de encontrar um com ambas cirurgias feitas.
    Parece me ser sempre mais importante a observação objectiva do que a resposta subjectiva da AV e ou sensibilidade ao contraste, pois perante uma cirurgia rápida da remoção da catarata poderemos ter uma retinopatia lenta mas evolutiva e irreversivel perda das funções retinianas.
    Conclusão: os diagnosticos mais objectivos com OCT / Eco ou outros podem aliviar muito as listas de espera e os gastos da saude publica.

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