
Este artigo pretende discutir algumas considerações sobre as terapêuticas usadas para o controle da miopia.
Alguns colegas optometristas estão profundamente envolvidos nesta temática, como uma área especializada, adicionando um valioso serviço, em que um dos objectivos principais será ajudar a reduzir o risco de patologia associada à miopia.
No entanto, menos de 10% dos profissionais de visão oferecem este serviço. A justificação para tal engloba falta de conhecimento, falta de evidência científica e o preço associado a estes tratamentos. Caso esteja a ponderar oferecer este serviço é importante estar informado(a) com os últimos estudos e recursos disponíveis. Existe uma grande comunidade de colegas que podem ajudar através de websites, blogs ou fóruns. Terá de despender algum tempo para adquirir conhecimento e destreza necessária, assim como o equipamento adequado para o sucesso do serviço.
O primeiro passo para oferecer este serviço é reconhecer que a miopia é uma doença que pode comprometer a visão e respectiva qualidade de vida dos pacientes. Esta será uma verdadeira pandemia em 2050. Actualmente existem intervenções eficientes para atrasar a progressão desta ametropia que, inevitavelmente, tem a principal vantagem de reduzir o potencial risco de perda de visão, mesmo em pacientes com baixa miopia.
A publicidade é uma mais valia e, deste modo, é importante discutir o assunto com os pacientes. Mesmo os utentes sem miopia, podem ter familiares com miopia na sua família, nomeadamente os seus filhos. Posters e panfletos no consultório podem ajudar, assim como emails ou mensagens personalizadas com informação sobre o tema. Caso tenha website, este deverá conter informação sobre os efeitos da miopia na saúde ocular a longo prazo.
Também é importante informar e treinar todos os colaboradores envolvidos, com informação científica, factores de risco e intervenções disponíveis. O instituto Brien Holden Vision tem cursos acessíveis para todos os níveis de intervenção e complexidade.
Apesar de todas as vantagens, este tratamento não é isento de problemas para o paciente nem para quem oferece o tratamento, mesmo quando os estudos parecem mostrar o mesmo risco de complicações em crianças e adultos no que concerne ao uso de lentes de contacto. Neste sentido, existem alguns tópicos que merecem atenção:
Não prometer resultados – É importante ser honesto para com os pacientes sobre o que sabemos e sobre o que não sabemos. Isto irá prevenir eventuais acusações ou processos em tribunal. Apesar do controlo de miopia ser eficiente em reduzir a progressão da miopia em alguns pacientes, é muito improvável que pare a progressão completamente. Não existe forma de saber exactamente quanta miopia será reduzida, ou saber a quantidade que iria aumentar sem tratamento. Também não existe certezas quanto à progressão após finalizar o tratamento ou mesmo quanto ao real risco de complicações oculares associados à miopia. Se o clínico não esclarecer devidamente estes pontos, existe o risco destes pacientes pedirem compensações caso as suas expectativas sejam defraudadas. Assim é importante usar consentimentos informados, panfletos e fazer um registo clínico adequado. Infelizmente existem relatos de queixas em Portugal. É necessário um esforço de todos para que estas acusações não proliferem.
Estar informado das últimas actualizações e das boas práticas clínicas é extremamente importante. Outro assunto relevante é, efectivamente, estar consciente de que o aumento do comprimento axial é o maior risco para futura patologia ocular. Assim, deverá ser monitorizado o comprimento axial do olho para ter maior segurança durante o tratamento.
Nos últimos anos, o controlo ou manuseamento da miopia está entre os temas mais falados em Optometria. A evidência mostra que o uso de lentes contacto específicas podem ser eficientes em atrasar a progressão da miopia. No entanto existe grande interesse no tratamento com atropina. Imaginando um futuro onde a criança usa uma gota de colírio, sem usar lentes hidrófilas ou de orto-k, parece promissor. O estudo CHAMP-UK é um dos que actualmente pretende avaliar a eficácia de atropina a 0.01% no controle da miopia e, está a ser realizado em vários locais no Reino Unido. Outros estudos estão a ser conduzidos em Dublin e na Austrália. Caso sejam bem sucedidos, é possível que esta terapêutica esteja disponível em 2025.